quinta-feira, 31 de março de 2005

Ensaio

Cada gesto, um ensaio para o gesto seguinte. Um treino para, no dia certo, viver de facto. E enquanto esse dia não surge, vou ensaiando a vida. (E se esse dia não surgir, terei sido um protótipo de vida.)

quarta-feira, 30 de março de 2005

Liberdade

A ordem é uma construção. Natural, divina, humana, não interessa. Interessa, é que todo a acção involuntária é artificial, necessária, mecânica. A liberdade só pode existir no caos. A acção livre só pode existir enquanto desprovida de sentido.

domingo, 27 de março de 2005

Um homem maior do que a própria fé? Mas se é a fé que o faz maior do que aquilo que é, que o preenche, que o torna absoluto, que o faz transcender-se. A fé não é uma opção, uma forma de viver, de estar. A fé é a única forma de ser, porque é condição necessária, imposta por algo que está para além de nós.

quinta-feira, 24 de março de 2005

Resposta

Pensar no passado. Afinal é lá que acreditamos se encontrarem as respostas para o presente. Conhecer o passado para compreender o presente. É mais fácil encontrar uma justificação do que tomar uma atitude de ruptura. Porque a não queremos tomar.

terça-feira, 22 de março de 2005

Pele

A experiência adquire-se na mente, e não na pele. Porque somos quem determina o significado do que nos impressiona. Aquilo que sentimos é aquilo que, antes, pretendemos sentir.

sábado, 19 de março de 2005

sexta-feira, 18 de março de 2005

Psicologia

parem, parem, Parem com a psicologização do discurso. Nem tudo tem de ter um sentido latente, que necessite ser adivinhado.

quinta-feira, 17 de março de 2005

Factos

A análise de um acontecimento passado é metodologicamente a mesma da de um acontecimento presente: contraposição de diversos pontos de vista, que são amostras recolhidas, factos apurados. Porque um facto não tem maior validade do que outro facto que se lhe opõe.

terça-feira, 15 de março de 2005

Calças

Posso experimentá-las? Concerteza, o mostrador fica ali, à esquerda. Mas porque é que tudo fica melhor no manequim cor de cal do que em mim? Obrigado, o tamanho é este, mas não gosto de me ver com elas. Têm a cintura muito baixa, não é? Aprecei-me a concordar, com o sorriso estúpido de quem nada percebeu. É mais fácil quando temos a razão do outro, para além da nossa.

segunda-feira, 14 de março de 2005

Brincar

Saudade de subir, a correr, um monte, de descê-lo rebolando sobre as ervas, de me deixar lá deitado, a rir como um perdido, a adivinhar as figuras que as nuvens desenham, no céu azul.

Saudade de uma infância que não foi a minha.

sábado, 12 de março de 2005

Simbólico

Tudo é simbólico. As palavras, as imagens, os sons, os corpos, as ideias, simples e compostas, sintéticas e abstractas, e até mesmo as relações que existem entre todas estas coisas. Porque em tudo isto existe um para lá, de onde extraímos um significado. O problema é que até o significado é simbólico, porque não só existe em nós, como parte de nós, pelo que significa qualquer coisa em nós.

quinta-feira, 10 de março de 2005

Esquecer

Foi há dois anos. Não foi há só dois anos. A memória é o instrumento através do qual medimos a vida. Esquecer é o acto voluntário de quem a quem nada aconteceu. É uma fuga do que ficou para trás. Esquecer é reinventar o que em nós acontece à medida de uma pressuposta felicidade. É uma fuga para lado nenhum.

terça-feira, 8 de março de 2005

Recordar

Não foi só há dois anos. Foi só há dois anos. A memória é o instrumento através do qual medimos a importância do que em nós aconteceu. Recordar é o acto voluntário de quem quer que nada mais lhe aconteça. É uma fuga para trás. Recordar é reinventar o que em nós aconteceu à medida da nossa felicidade. É uma fuga para lado nenhum.

sábado, 5 de março de 2005

Ordem

A ordem não está na disposição das coisas, mas na nossa disposição em relação às coisas.

quarta-feira, 2 de março de 2005

Proust

Em busca do tempo perdido, é também uma forma de perder tempo.