terça-feira, 31 de agosto de 2004

Justificação

Existe uma escrupulosa necessidade de nos justificarmos. Não só perante os outros, mas também perante nós próprios. É assim que procuramos razões para cada um dos nossos actos, numa tentativa de nos tornarmos plausíveis.

Claustro

Passamos a vida como num claustro. Enclausurados no mais belo dos jardins, indiferentes observamos quadros de vidas que não são nossas em cada uma das galerias. Onde o sofrimento não é sofrimento, mas apenas a imagem dele. Apenas o jardim e a fonte, no centro, são reais.

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Mito

O mais trágico numa relação brutalmente interrompida é que não se chegou a aprender o desamor. A aprender que “afinal não amávamos” ou que “afinal não éramos amados”. É quando o outro atinge as estruturas do mito, e quando a angústia de algo que ficou por cumprir torna eterno aquilo que o não é. As relações eternas só o são com a própria eternidade.

domingo, 29 de agosto de 2004

Romancistas

Somos os maiores romancistas de nós próprios, porque não há gesto nosso que não ficcionemos. Talvez por isso os conscienciosos tenham um “problema de auto-estima”, enquanto os outros não só vivam bem consigo próprios como são até as desgraçadas vítimas da sociedade.