quarta-feira, 18 de julho de 2007

Muletas

A paranóia com a segurança não é um fenómeno recente. É, aliás, condição necessária da nossa existência e, como tal, acompanha-nos desde o início. Não me refiro apenas à salvaguarda da integridade física, que é um factor biológico, animal, mas sobretudo à da integridade moral. Porque é nesta que mais se destaca aquilo que definimos como a nossa personalidade. Um conjunto de comportamentos que assumimos como sendo a melhor via para nos assegurarmos a nós próprios. Mas não nos iludamos em pensar que a integridade que julgamos ter é fruto de algo puramente interno, incorruptível, como os átomos de Demócrito ou as mónadas de Leibniz. Pelo contrário, cada atitude que tomamos é um objecto estranho, exterior a nós próprios. Uma muleta. O sucesso, o amor, o poder, o saber, a solidão. E até todos os contrários destes: a ignorância, a subserviência, o ódio, a dor. E tudo quanto possamos pensar. Andamos todos à procura do mesmo, ainda que de formas totalmente contrárias e até contraditórias.