quinta-feira, 30 de junho de 2005

Luto

É perante a liberdade que nos surge a sensação de desorientação. Que fazer depois de todos os obstáculos estarem derrubados? Necessitamos, pois, de novas prisões, para delas nos libertarmos. É isso o que nos mantém ocupados, o que nos dá a ilusão de vivermos.

(É talvez por isso que a morte de Emídio Guerreiro nos não sensibiliza tanto quanto a morte de Álvaro Cunhal. Enquanto este empenhou a sua liberdade para se legitimar, o primeiro quis conquistar a liberdade porque acreditava na legitimidade do homem)

sábado, 25 de junho de 2005

Afirmo

Estamos sempre a tentar localizar o agora, para o afirmarmos. Porque quando afirmo, torno isso que afirmo durável. Esta dinâmica que em tudo observamos, e à qual sabemos não escapar, provoca-nos a vertigem do nada em que constantemente nos tornamos. Afirmo, para que alguma coisa sobreviva ao nada.

domingo, 19 de junho de 2005

Coerência

Entre a adjectivação pretensamente elogiosa, destaca-se a coerência. Mas esta tem-se confundido com o estatismo, com o conservadorismo ideológico, alheio à dinâmica e às consequentes contradições do homem. A coerência é a adequação das ideias ao mundo.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Tolerância

É estranho o conceito de limite à violação do aceitável. Implica uma condescendência da sociedade perante o inaceitável do individuo, e um esforço de contenção do individuo perante o inaceitável da sociedade.

domingo, 5 de junho de 2005

Parmenedianismo

Se o mundo tivesse sido feito à imagem de Deus, viveríamos sobre o mais completo tédio. Porque aquilo que é perfeito nunca poderá comportar a mudança.

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Mudança

As coisas já não são o que eram. Mas foi por agora o ter dito que as coisas deixaram de ser o que eram. Porque só muda aquilo que sentimos, quando o sentimos. E aí, o que mudou fomos nós.