terça-feira, 27 de dezembro de 2005

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Bergman

Não há relação sem compromisso. Nem que o compromisso seja o descomprometimento. Porque não há como impedir a formação de expectativas, o que é o motor do nosso relacionamento com o outro, na dialéctica da aproximação e do afastamento, da afecção e da repulsão. O compromisso é a regulação das expectativas.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Permanências

O que é que em nós permanece quando mudamos? O que é que de nós permanece quando mudamos? Afirmar a existência de permanências, permite-nos determinarmo-nos através de referentes, sejam eles essenciais ou temporais. Mas proíbe-nos a extrema liberdade de sermos, fora das convenções individuais e sociais.

sábado, 10 de dezembro de 2005

Heroísmo

Não há realização possível através de uma grande obra. Seja ela uma grande obra de arte, ou uma grande obra de amor. Porque a vida, em tudo quanto ela possa ter de identificação, jamais o será apenas com um único feito.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Fuga

A melhor forma de evitar a rejeição é não pretender a aceitação.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Ser

Não sou menos que os outros. Mas a cada dia que passa sou menos que eu próprio.

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Rosa

Com a democracia, descobrimos que somos nós próprios os responsáveis por aquilo que se encontra estabelecido. É por isso importante recordar Rosa Parks. Continuamos a necessitar de quem se recuse a ceder o seu lugar no autocarro.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Identidade

O que de mim permanece constitui-me para além da personalidade, mas não me constitui necessariamente enquanto indivíduo. Afinal, qual a minha grande ambição? Ser único?, ser autêntico?, ser social? Ah, sim!, bem sei! Ser tudo isso e mais! Nem nos apercebemos que a afirmação absoluta de qualquer destes, conduz à exclusão absoluta dos outros.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Finalismo

A existência humana não tem um sentido, ou quando o tem é definido pela finalidade dada à existência. Pois se a existência humana tivesse um sentido que fosse originário, então a sua finalidade seria demonstrada.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Antropologia

O homem não é definível. Porque quando se define, já não está de acordo com essa definição.

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Efeméride

O que terá a vida de tão interessante para que a morte sempre a consuma?

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Confusão

O pacto que se estabelece com o estado das coisas advém da impossibilidade de se identificarem os responsáveis. Na verdade, o estado de confusão em que nos vemos envolvidos é tão generalizado, que dele participamos e para ele contribuímos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Absolutismo

Toda a definição é já um absolutismo. Não adianta, portanto, afirmar o relativismo. Porque, no limite, afirmá-lo é já refutá-lo. Não se pense, porém, que o homem se deva presumir detentor de alguma verdade. Certezas, só as têm os incautos. E só quem não crê não tem dúvidas.

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Suicídio

Também nas atitudes em relação ao suicídio se revela o essencial do pensamento social. A condenação do suicídio afirma a legitimidade da sociedade perante o indivíduo, enquanto a sua aceitação é reveladora do pensamento liberal.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Reformulação

A revolta do homem para com Deus tem a sua génese na recusa de que a sua acção fosse já conhecida, estivesse já determinada. Mas ao reconhecer que o seu acto era absoluto, inventou novos deuses para lhes atribuir a responsabilidade dos seus actos.

segunda-feira, 25 de julho de 2005

quinta-feira, 21 de julho de 2005

sexta-feira, 15 de julho de 2005

Autocomiseração

É necessário afirmar com Rousseau que o raciocínio desenvolve o amor-próprio, porque o pensamento cria um distanciamento com o objecto pensado. Quanto mais me penso, mais me reconheço único, e maior a dificuldade em identificar-me. Sem identificação, não há empatia, e desenvolve-se o isolamento. Quanto mais me penso, mais me torno indiferente perante tudo o que não sou eu. O conhecimento ocupa o lugar do sentimento.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Convergência

A acção é tudo aquilo que encontra expressão de facto. Por detrás de um aparente pragmatismo diferenciado de uma verdade oculta, sublinha-se que toda a verdade, apercebida ou não, age sobre todas as coisas. Mais, só aquilo que age pode ter existência, pois caso contrário, todas as potências existiriam já e seriam agentes. A realidade seria assim, simultaneamente, tudo aquilo que é e que pode ser. Seria um eterno convergente de todas as possibilidades e, como tal, indisponível para qualquer dinâmica.

quinta-feira, 30 de junho de 2005

Luto

É perante a liberdade que nos surge a sensação de desorientação. Que fazer depois de todos os obstáculos estarem derrubados? Necessitamos, pois, de novas prisões, para delas nos libertarmos. É isso o que nos mantém ocupados, o que nos dá a ilusão de vivermos.

(É talvez por isso que a morte de Emídio Guerreiro nos não sensibiliza tanto quanto a morte de Álvaro Cunhal. Enquanto este empenhou a sua liberdade para se legitimar, o primeiro quis conquistar a liberdade porque acreditava na legitimidade do homem)

sábado, 25 de junho de 2005

Afirmo

Estamos sempre a tentar localizar o agora, para o afirmarmos. Porque quando afirmo, torno isso que afirmo durável. Esta dinâmica que em tudo observamos, e à qual sabemos não escapar, provoca-nos a vertigem do nada em que constantemente nos tornamos. Afirmo, para que alguma coisa sobreviva ao nada.

domingo, 19 de junho de 2005

Coerência

Entre a adjectivação pretensamente elogiosa, destaca-se a coerência. Mas esta tem-se confundido com o estatismo, com o conservadorismo ideológico, alheio à dinâmica e às consequentes contradições do homem. A coerência é a adequação das ideias ao mundo.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Tolerância

É estranho o conceito de limite à violação do aceitável. Implica uma condescendência da sociedade perante o inaceitável do individuo, e um esforço de contenção do individuo perante o inaceitável da sociedade.

domingo, 5 de junho de 2005

Parmenedianismo

Se o mundo tivesse sido feito à imagem de Deus, viveríamos sobre o mais completo tédio. Porque aquilo que é perfeito nunca poderá comportar a mudança.

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Mudança

As coisas já não são o que eram. Mas foi por agora o ter dito que as coisas deixaram de ser o que eram. Porque só muda aquilo que sentimos, quando o sentimos. E aí, o que mudou fomos nós.

segunda-feira, 30 de maio de 2005

Revolto

A razão última do meu ódio é que te amo. E amo-te tão desmesuradamente que te não aceito, que te não tolero. Porque os teus gestos, as tuas palavras, as tuas acções contêm todo o significado. Mas eu não encontro sentido nesse significado. Provocas-me a falência do mundo.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

Epopeia

Ah, a fé que me sonha maior do que sou! E saber que os sonhos se não sonham ou se vivem, senão trivialmente, sem sabermos que os vivemos.

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Alvo

Eras um alvo tão fácil, tão óbvio. Julgo que te não matei por melancolia.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Ode

O egocentrismo não tem de implicar necessariamente o narcisismo. Porque eu posso odiar-me e pretender-me o centro de todos os ódios. O que o egocentrismo obriga é a uma presunção, manifestação e imposição orgulhosa do ego. E não há contradição nisto. O orgulho que se exibe é relativo ao sem número de virtudes e defeitos que nos tornam únicos. Como o orgulho centra-se na individualidade, perpetuam-se e gritam-se desalmadamente as virtudes e os defeitos, para que não sobre ninguém que a não reconheça.

sábado, 14 de maio de 2005

Determinantes

Porquê tomar decisões em função de um futuro que ninguém conhece?

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Arte

Se o homem está condenado a dar resposta aos seus enigmas, pela sua incapacidade de se sustentar no nada, como pode a arte ser tomada como absoluta? Pois o que define a arte é o seu mistério, é a sua capacidade de nos provocar vertigens.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Solitude

Estamos irremediavelmente sós no mundo. Talvez só quando aceitarmos essa nossa condição deixaremos de pretender e presumir dos outros o que quer que seja.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Aspirância

Quando me lembro de que sinto a tua falta, observo pela janela quem passa, e entretenho-me a acreditar que és tu.

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Relativo

O relativismo tem conhecido uma crescente aceitação, porque permite uma atitude cómoda perante a vida, com a qual se não estabelecem compromissos. Sob uma máscara de tolerância perante todo e qualquer acto, a relativização é a expressão maior de um egoísmo, porque, no limite, pretende justificar as próprias escolhas.

terça-feira, 3 de maio de 2005

Epicuro

Nada existe na natureza que não seja quotidiano. Pois caso contrário, quem seria o seu autor?

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Dinâmica

Que compromisso estabelece o escritor com aquilo que escreve? Porque aquilo que está escrito não é já aquilo que foi escrito. Pode ambicionar-se a objectividade nas palavras, mas não que essa objectividade seja estática. Mas se a escrita não é um meio através do qual se pode obter a imortalidade, para quê escrever? (Talvez para ser agente dessa dinâmica)

sábado, 30 de abril de 2005

Evocação

É claro que estás vivo. A qualquer momento posso cruzar-me contigo numa qualquer rua, num qualquer bar. E por vezes cruzo-me, ainda que te não fale. Mas, afinal, nunca empreendemos grande diálogo entre nós, e eu só sei o teu primeiro nome. Estás vivo porque me lembro de ti, e nada há de metafísico nisto.

terça-feira, 26 de abril de 2005

Inferno

A intenção é a mediação entre a vontade e a acção. Que devemos então julgar? O acto que se não funda na vontade? A vontade que não chega a ter expressão? O esforço de conciliar a vontade e a acção? De que está o inferno cheio?

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Ética

Um acto virtuoso só está terminado quando dele não tivermos consciência.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Absoluto

Existe em nós uma necessidade absoluta de absoluto: deus, o outro ou eu.

Porque quando estás na minha presença, as minhas opiniões, as minhas acções, as minhas vontades não são significantes. Tu és o absoluto.

Porque é na tua ausência, na presença de mim a mim próprio, que sei e que ajo e que vivo. Eu sou o absoluto.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

Puro

Cuidado, não te tornes tu também numa ideia, de tantas ideias que tens.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Conceito

Um conceito é um preconceito do qual temos conhecimento da justificação.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

Comunidade

A sanidade mental é a loucura partilhada. Porque a verdade é apenas a ordem comum, mas esta é tão arbitrária como qualquer outra.

domingo, 10 de abril de 2005

Deuses

O homem descobriu-se enquanto deus porque reconheceu que o seu acto, o produto da sua vontade, é absoluto, livre, espontâneo. Mas o homem é demasiado fraco para suportar a sua própria divindade, e assim foi inventando outros deuses a quem se submeter, e a quem atribuir a responsabilidade dos seus actos.

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Passividade

Actuar é tornar actual. Se existes, és tu próprio também um acto. A autodeterminação é condição inerente de tudo quanto possas ter ideia. A passividade não existe.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Obsessão

Que queres que faça? Que seja indiferente perante ti? Que não goste de ti? Existem possibilidades que não fazem parte do meu leque de opções.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

Literatura

De que nos serve a literatura se tudo o que vale a pena é incomunicável? Porque aquilo que digo não é aquilo que intento, nem aquilo que interpretas, mas a própria coisa dita, que é irredutível.

quinta-feira, 31 de março de 2005

Ensaio

Cada gesto, um ensaio para o gesto seguinte. Um treino para, no dia certo, viver de facto. E enquanto esse dia não surge, vou ensaiando a vida. (E se esse dia não surgir, terei sido um protótipo de vida.)

quarta-feira, 30 de março de 2005

Liberdade

A ordem é uma construção. Natural, divina, humana, não interessa. Interessa, é que todo a acção involuntária é artificial, necessária, mecânica. A liberdade só pode existir no caos. A acção livre só pode existir enquanto desprovida de sentido.

domingo, 27 de março de 2005

Um homem maior do que a própria fé? Mas se é a fé que o faz maior do que aquilo que é, que o preenche, que o torna absoluto, que o faz transcender-se. A fé não é uma opção, uma forma de viver, de estar. A fé é a única forma de ser, porque é condição necessária, imposta por algo que está para além de nós.

quinta-feira, 24 de março de 2005

Resposta

Pensar no passado. Afinal é lá que acreditamos se encontrarem as respostas para o presente. Conhecer o passado para compreender o presente. É mais fácil encontrar uma justificação do que tomar uma atitude de ruptura. Porque a não queremos tomar.

terça-feira, 22 de março de 2005

Pele

A experiência adquire-se na mente, e não na pele. Porque somos quem determina o significado do que nos impressiona. Aquilo que sentimos é aquilo que, antes, pretendemos sentir.

sábado, 19 de março de 2005

sexta-feira, 18 de março de 2005

Psicologia

parem, parem, Parem com a psicologização do discurso. Nem tudo tem de ter um sentido latente, que necessite ser adivinhado.

quinta-feira, 17 de março de 2005

Factos

A análise de um acontecimento passado é metodologicamente a mesma da de um acontecimento presente: contraposição de diversos pontos de vista, que são amostras recolhidas, factos apurados. Porque um facto não tem maior validade do que outro facto que se lhe opõe.

terça-feira, 15 de março de 2005

Calças

Posso experimentá-las? Concerteza, o mostrador fica ali, à esquerda. Mas porque é que tudo fica melhor no manequim cor de cal do que em mim? Obrigado, o tamanho é este, mas não gosto de me ver com elas. Têm a cintura muito baixa, não é? Aprecei-me a concordar, com o sorriso estúpido de quem nada percebeu. É mais fácil quando temos a razão do outro, para além da nossa.

segunda-feira, 14 de março de 2005

Brincar

Saudade de subir, a correr, um monte, de descê-lo rebolando sobre as ervas, de me deixar lá deitado, a rir como um perdido, a adivinhar as figuras que as nuvens desenham, no céu azul.

Saudade de uma infância que não foi a minha.

sábado, 12 de março de 2005

Simbólico

Tudo é simbólico. As palavras, as imagens, os sons, os corpos, as ideias, simples e compostas, sintéticas e abstractas, e até mesmo as relações que existem entre todas estas coisas. Porque em tudo isto existe um para lá, de onde extraímos um significado. O problema é que até o significado é simbólico, porque não só existe em nós, como parte de nós, pelo que significa qualquer coisa em nós.

quinta-feira, 10 de março de 2005

Esquecer

Foi há dois anos. Não foi há só dois anos. A memória é o instrumento através do qual medimos a vida. Esquecer é o acto voluntário de quem a quem nada aconteceu. É uma fuga do que ficou para trás. Esquecer é reinventar o que em nós acontece à medida de uma pressuposta felicidade. É uma fuga para lado nenhum.

terça-feira, 8 de março de 2005

Recordar

Não foi só há dois anos. Foi só há dois anos. A memória é o instrumento através do qual medimos a importância do que em nós aconteceu. Recordar é o acto voluntário de quem quer que nada mais lhe aconteça. É uma fuga para trás. Recordar é reinventar o que em nós aconteceu à medida da nossa felicidade. É uma fuga para lado nenhum.

sábado, 5 de março de 2005

Ordem

A ordem não está na disposição das coisas, mas na nossa disposição em relação às coisas.

quarta-feira, 2 de março de 2005

Proust

Em busca do tempo perdido, é também uma forma de perder tempo.

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Ser

Relembro todo o meu dia contigo. Analiso todos os meus gestos, todas as minhas palavras. Odeio todo o produto da minha involuntariedade, toda a minha inexpressividade. Não me identifico com aquilo que sou.

sábado, 26 de fevereiro de 2005

Corpo

O corpo. Não o sinto. É-me estranho. Não me obedece. Impossibilita-me o gesto perfeito. Invejo-te. Tu és o teu corpo. Quero-te. Entender.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Identidade

Se te constróis naquilo que te pretendes, onde é que te encontras?

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Simplicidade

Tenho saudades tuas. Mas receio estar contigo. Receio que, estando contigo, não mais consiga não estar contigo. Mas quando estou contigo, tudo está certo. Porque estou contigo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Independência

Há que ser alheio, indiferente, a quem nos rodeia, para que consigamos ser independentes. Porque gostar de alguém é já criar uma dependência. Tolhe-nos os movimentos, por receio das consequências. Não há outra forma de gostar de alguém. E é também por isso que mentimos e ocultamos. É uma forma de preservarmos os outros dos nossos próprios actos. E também uma forma de conseguirmos alguma independência. Esses são os nossos instrumentos quando não possuímos um espaço só nosso. Depois entra a distância, que é já o primeiro passo para nos esquecermos dos outros, ou de só nos lembrarmos de quem nos queremos lembrar, quando nos queremos lembrar. Quanto maior a distância entre mim e o outro, maior a minha independência. A única pessoa verdadeiramente independente será, por força solitária. Porque nas relações que mantemos a distância pode ser ainda a de quem as não mantém.

domingo, 13 de fevereiro de 2005

Crítica

Toda a crítica se baseia em dogmas. Pois como questionar os instrumentos com os quais questionamos?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Agir

Agir não é manifestar uma ideia, porque todas as ideias são já manifestações do sujeito. Assim, a tendência para a abstracção das ideias não tem de impedir o pragmatismo da acção, porque uma ideia é já uma acção. Pensar também é realizar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Mistério

De onde vens? Que vontade é essa que te anima? Serás o produto de alguém, aquele que age conforme os que te trouxeram ao mundo? Ou serás o produto de ti próprio, o acidente que te fez nascer livre? Mistério de vida irresoluto, fonte do meu mais perene comprazimento.

sábado, 5 de fevereiro de 2005

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Intencional

O inintencional é a expressão do que se não pretende consciente.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Misticismo

Deus nunca fará sentido enquanto opção, nem enquanto certeza inabalável. É a aparente contradição de quem permanentemente duvida das suas próprias opções, de quem sente a sua própria fragilidade perante o absoluto que o preenche. Só então a morte poderá ser encarada como realização pessoal, que se identifica com a realização absoluta, e não como obstáculo para o prazer ou solução para o sofrimento.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Absoluto

É impressionante a insuficiência maniqueísta das palavras. Porque nada há que seja tão objectivo quanto as palavras que uso para as corresponder. Se afirmo, nego tudo o que não esteja contido nessa afirmação. Mas nada é absolutamente.

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

domingo, 23 de janeiro de 2005

Olhar

Por vezes, olhar-te é a única coisa que por ti poderei fazer. Essa força vital que te diz que sou maior do que aquilo que sou, e que só assim poderás saber que não estás só.

sábado, 22 de janeiro de 2005

Proximidade

Não fosse pelo título, Closer seria talvez um filme sobre a ambiguidade moral da mentira.

Mas Closer é, justamente, um filme sobre as distâncias nas relações entre pessoas. Distâncias essas que são determinadas pela dialéctica da verdade e da mentira, inexistente quando a proximidade é um facto físico atemporal, quando não existe ainda história a ser narrada.

Closer chega mesmo a questionar a relevância dessa mesma história. Afinal o que é a proximidade? O conhecimento, ou o sentimento?

"Perto demais", porque "the closer you get, the farther your feelings".

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Húmus

“(…) há mentiras que têm raízes mais fundas que a verdade.”1 E é por o terem que deve a espontaneidade ser questionada. Será a minha verdade aquilo que não chego a racionalizar, ou aquilo em que acredito? E como saber daquilo em que acredito sem o ser através de uma reflexão? O que está no fundo dos actos não racionalizados é a condição humana: a busca da felicidade imediata, a conveniência, o egoísmo, a hipocrisia, a cegueira crónica, o escape a qualquer forma de dor, a irresponsabilidade perante si e os outros, perante a vida e o mundo. Porque a verdade é insuportável.
1Raul Brandão, Húmus

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Suffero

Sofro, logo existo. (A certeza de estar vivo revela-se uma satisfação angustiante)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Ânsia

Por vezes… sinto uma necessidade absoluta de escrever, nem que seja apenas sobre a necessidade absoluta de escrever. Porque há ainda aquilo a que não tenho acesso, razões que desconheço, tal como… porque me sinto assim? Uma pressão no preciso centro vectorial, uma respiração inacabada, um coração a saltar do peito, memórias do que já não há… a constatação de que já não há.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Reflexão

Perdido no labirinto da reflexão interior, o mundo não é já o que se me apresenta, mas aquilo que me apresento.

terça-feira, 11 de janeiro de 2005

Legitimidade

As estruturas do pensamento constituem um sistema. Mas a existência de um sistema não pressupõe a sua intrínseca coerência. Por sua vez, a inexistência de coerência não indica uma inadequação à verdade. Porque a verdade é aquilo que vejo, aquilo que sinto, aquilo que penso. Ainda que essa verdade não corresponda a nada, ela está legitimada, porque, para mim, só eu necessito de a legitimar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Significação

Quando se coloca a questão sobre o sentido da vida, pretende-se antes questionar o significado da vida. Porque assumir que a vida tem um sentido é assumir que existe uma dinâmica no significado da vida. E não será mesmo esta a verdade?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

Invencibilidade

Quanto mais alimentas a invencibilidade que pressupões ter, mais fraco te tornas, sem o notares, até ao dia em que não consegues sair da cama.

domingo, 2 de janeiro de 2005

Saber

Os anos que em nós passam conferem-nos uma maior sabedoria, mas também uma menor sensibilidade. Aquilo que é hoje para ti uma experiência intensa, não mais a sentirás senão enquanto memória do momento em que a sentiste.