sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Saber

Não sei já aquilo que soube. Quanto muito, tenho alguma memória, de maior ou menor intensidade, daquilo que soube. Por isso escrevo. De alguma forma, tento fixar um momento de pretensiosa lucidez. Mas quando leio o que escrevi, e que já não sei, não tenho já possibilidade de entender esse saber. Ignorantemente, fico com a consolação de um dia ter sabido.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Factos

Em questões de facto, ninguém tem razão. Em questões de facto, consulta-se a enciclopédia. Um facto não se deduz a partir de determinadas premissas. Um facto limita-se a sê-lo.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Licenciosidade

O paradoxo de todos os fenómenos associados à liberdade é a sua permissão e assimilação (que não significa diluição) de fenómenos contrários à liberdade. Foi assim com a ascensão de Hitler na Alemanha democrática, e com o cristianismo (religião exclusivista) no seio de um Império Romano pautado por uma prática de liberdade religiosa. Uma vez mais, estes mesmos radicalismos colocam hoje em causa uma civilização que foi construída: a ausência de liberdade religiosa coarcta a liberdade de expressão, alimentando-a e extremando-a. Esta, por sua vez, coarcta a ausência de liberdade religiosa, alimentando-a e extremando-a. Se é evidente que a solução só pode passar por uma moderação consentida e habitada, já não é tão evidente o caminho para a atingir. A descompensação de uma das partes pode não trazer consigo a proporcional descompensação da outra parte.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Submissão

“If you love him, you must trust him, bad or good”, dizia o agente de Dixon Steele (Humphrey Bogart) a Laurel Gray (Gloria Grahame) no filme In a Lonely Place, de Nicholas Ray. Mais que uma prova de amor, a confiança torna-se assim uma prova de submissão.