quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Independência

Há que ser alheio, indiferente, a quem nos rodeia, para que consigamos ser independentes. Porque gostar de alguém é já criar uma dependência. Tolhe-nos os movimentos, por receio das consequências. Não há outra forma de gostar de alguém. E é também por isso que mentimos e ocultamos. É uma forma de preservarmos os outros dos nossos próprios actos. E também uma forma de conseguirmos alguma independência. Esses são os nossos instrumentos quando não possuímos um espaço só nosso. Depois entra a distância, que é já o primeiro passo para nos esquecermos dos outros, ou de só nos lembrarmos de quem nos queremos lembrar, quando nos queremos lembrar. Quanto maior a distância entre mim e o outro, maior a minha independência. A única pessoa verdadeiramente independente será, por força solitária. Porque nas relações que mantemos a distância pode ser ainda a de quem as não mantém.