quarta-feira, 29 de março de 2006

Neologismos

E eis que Deus chama o homem a participar da criação, quando é este quem nomeia os seres criados. Acontece que os seres criados já existiam antes de serem nomeados, mas só depois de serem nomeados é que passaram a existir. Por outras palavras: um mocho é já um mocho antes de ser um mocho? Mesmo Deus teve de esperar que o homem dissesse o que é um mocho, para que ele soubesse o que era um mocho. Não que ele não soubesse o que um mocho é, apenas não sabia que aquilo que o mocho é era um mocho. A nomeação é a forma de criação exclusivamente humana, o acto que nos faz participar da divindade. Hoje já pouco resta desta actividade criativa. Tudo quanto hoje se nomeia, resulta de uma composição daquilo que foi já nomeado: a informática é a ciência da informação. Há muitos séculos que o homem sabe o que é uma ciência e o que é a informação, apenas se não lembrou mais cedo de juntar os dois conceitos. O progressivo desaparecimento de línguas agrava a situação, pois perde-se um sistema de nomeação das coisas que é intraduzível, como todas as línguas o são. Por fim, a crise das línguas é também a crise das artes. Não podemos criar enquanto não aprendermos novamente a nomear.