quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

Desenvolvimentos

O que é que de nós fica quando anulamos todo o exterior? Quando toda a percepção possível recai sobre a nossa própria existência? Porque esta é a única de que podemos estar certos. Mas a certeza da nossa existência não acompanha a compreensão de nós mesmos. A anulação da projecção do que somos relança a questão do que somos, pois deixamos de nos podermos identificar com a nossa própria imagem, que é o que projectamos para o exterior.1 Deixados sós para suportar todo o peso da vida, somos nós próprios que nos descobrimos. Mas é também quando deixados sós, quando nunca haveramos estado sós, que descobrimos que o que de nós fica é nulo. Toda a nossa existência se devera ao exterior, e sobre ele havera sido construída, pelo que sem ele nada somos senão mera existência. Assim, nada nos resta senão o acto de construção de nós próprios por nós próprios, através de uma atitude reflexiva sobre o sentido da nossa própria existência. É desta forma que a alma adquire um peso que lhe é próprio. A partir do momento em que o exterior deixa de constituir uma evasão de nós próprios, deixa de ter uma significação fundamental. Deixamos de fazer parte integrante e de nos identificarmos com o próprio exterior, para adquirimos uma figuração própria.
1 Exterior, em 10.9.04, às 21:08